Podemos considerar a obesidade uma epidemia mundial. No Brasil, os dados de 2019 mostram que 55,4% da população adulta estava acima do peso e 20,3% dos brasileiros tinham diagnóstico de obesidade. Esses números são alarmantes e a previsão é que eles aumentem a cada ano.

O ganho de peso acontece pelo aumento do consumo de calorias, pela redução do gasto de energia ou por uma combinação dessas duas condições. Vários são os fatores envolvidos no processo de ganho de peso: estilo de vida, ambiente, fatores emocionais e genética, por exemplo. Sem dúvidas o estilo de vida é um dos fatores mais importantes. A modernidade trouxe com ela o hábito do consumo exagerado de calorias em fast food e a enorme oferta de produtos industrializados ricos em gorduras e açúcar. Além disso, as pessoas tem ficado muito tempo paradas em frete à televisão, aos computadores e celulares. Tem deixado de caminhar para se locomover por causa da praticidade do transporte feito através de carros e ônibus, não sobem mais escadas pois existem os elevadores. Tudo isso são apenas alguns exemplos que fazem com que o individuo esteja ingerindo mais calorias do que precisa. Caloria é energia e se ela não for usada pelo organismo para realizar suas atividades, ela se acumulará na forma de gordura.

O grande problema é que o sobrepeso e a obesidade estão associados a várias doenças, como pressão alta, diabetes, alterações do colesterol, aumento do risco de infarto, derrame e até alguns tipos de câncer. Então cuidar do peso vai muito além dos padrões de estética estabelecidos pela nossa sociedade. Cuidar do peso é cuidar da saúde. E o que seria o peso ideal? Através de um cálculo em que dividimos o valor do peso em quilos pela altura em metros elevada ao quadrado chegamos ao resultado do Índice de Massa Corporal, o IMC. Quando o IMC está acima de 25 chamamos de sobrepeso e quando acima de 30 classificamos como obesidade. É simples, você pode fazer esta continha em casa e conferir se está acima do peso.

Sempre existiu muito preconceito e ideias erradas sobre a obesidade e nós precisamos antes de mais nada mudar esta mentalidade. O indivíduo obeso sofria e até hoje sofre com o estigma de que é preguiçoso, de que falta força de vontade. Mas nós sabemos que não é assim que funciona! A obesidade é considerada uma doença complexa que demanda ação conjunta de vários profissionais para prevenção e tratamento. E esse tratamento deve envolver o respeito ao paciente e à individualidade de cada um. Os pilares do tratamento envolvem mudanças de hábitos de vida e nós sabemos que não é fácil mudar hábitos. Além disso, o nosso organismo desenvolveu mecanismos ao longo da evolução para guardar energia quando percebe que está perdendo gordura. Pense em nossos ancestrais. O alimento não era de fácil acesso como é hoje. O homem precisava caçar e coletar para se alimentar e assim ele gastava energia pra conseguir o alimento. Se emagrecia o corpo entendia que poderia desnutrir então o organismo desenvolveu mecanismos para guardar energia acumulando gordura. Para isso ocorrem alterações em vias neuro-hormonais que regulam nosso balanço energético com consequente aumento da fome e redução do gasto de energia levando ao reganho de peso. Esta memoria ainda existe no nosso organismo. Por isso muitas vezes é difícil perder peso e principalmente manter o peso perdido.

Os pilares para o tratamento são reeducação alimentar e a prática de atividade física. Para perder peso nós precisamos gastar mais energia do que estamos consumindo, o que chamamos de déficit de calorias. Para isso não existe uma dieta melhor do que outra. A melhor dieta é aquela que o paciente consegue seguir e manter a longo prazo. Não gosto desse termo dieta porque passa uma ideia de que vamos seguir durante algum período curto de tempo e o problema estará resolvido! Mas não… É preciso mudar hábitos para perder e conseguir manter o peso perdido. Além disso, a atividade física é importante porque é através dela que conseguimos gastar energia. Então tudo isso deve ser levado em consideração.

O tratamento com medicamentos entra para ajudar nesse processo de mudança do estilo de vida e nunca isolado. Algumas pessoas tem mais dificuldade de perder peso ou para aderir ao tratamento e a escolha do medicamento deve ser individualizada levando em consideração a história do paciente, o padrão alimentar do paciente, a presença ou não de doenças. Medicamentos podem ser indicados para pacientes com obesidade (IMC maior que 30), para pacientes com sobrepeso (IMC maior que 25) associado a alguma doença relacionada ao excesso de peso, quando não houver sucesso apesar das mudanças do estilo de vida. Deve ser feito sempre com acompanhamento médico pois medicamentos podem ter efeitos colaterais e devem ser indicados por um especialista. No Brasil nós temos 3 medicações aprovadas em bula para perda de peso.

– Liraglutida é uma medicação injetável, a famosa caneta, que age regulando a fome, a saciedade, diminuindo a velocidade de esvaziamento do estõmago e age também regulando o desejo por alimentos. Hoje é considerado um tratamento de primeira linha pela sua maior eficácia e segurança.

– Sibutramina aumenta a saciedade agindo no cérebro porem seu uso é mais restrito porque pode aumentar a pressão arterial e a frequencia cardíaca.

– Orlistate reduz a absorção de gordura dos alimentos pelo intestino. Tem eficácia limitada mas tem bom perfil de segurança.  

E existe efeito rebote? Essa é uma dúvida frequente no consultório. Não há nenhuma evidencia de efeito rebote mas ao interromper  medicação, se houver retorno aos hábitos antigos, consumindo mais calorias do que se gasta, haverá retorno do peso. Hoje a obesidade é vista como uma doença crônica. Por exemplo, quem tem pressão alta usa remédio diariamente e se interromper a medicação vai fazer subir a pressão. O mesmo pode acontecer com o peso. Lembra do mecanismo de adaptação do nosso organismo que eu falei anteriormente? De aumento de fome e de redução do gasto energético quando perdemos peso? Pois então… muitas vezes o tratamento precisa ser mantido a longo prazo como qualquer doença crônica.

Importante estabelecer com o especialista as metas e alinhar os objetivos do tratamento. Você sabia que perdas em torno de 10% do peso já trazem muitos benefícios à saúde e reduzem riscos de doenças? A constância do tratamento traz os resultados! E considero tambem importante ressaltar que hoje, em tempos de redes sociais onde as pessoas usam filtros e postam fotos com seus melhores ângulos para parecem perfeitas, não devemos nos comparar! Cada ser é único, cada organismo vai reagir de uma forma, cada pessoa tem seus objetivos e suas preferências.

Dicas:

  1. Descasque mais e desembale menos: evite produtos industrializados, coma mais alimentos naturais.

2. Mantenha-se ativo. Qualquer atividade é melhor do que não fazer nada.

3. Se notar que precisa de ajuda, procure um endocrinologista.

Dra. Joyce Armany Queiroz Silveira

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